Necessários no sentido de riscar, traçar linhas que podem ser desenhos ou letras compondo uma ideia... ou mesmo os riscos que somos levados a correr durante a vida... Tanto os riscos/traços/letras quanto os riscos/viver/arriscar são necessários para a sobrevivência dos nossos sonhos, nosso ego, e até mesmos dos nossos fantasmas...


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

De presidentes



Meu amigo Gonçalo Amarante me presenteou, em 2008 ou 2009, com uma fotografia ampliada da visita que o ex-presidente da república Juscelino Kubitschek fez a Matozinhos no ano de 1968, era aniversário da cidade, dia 23 de agosto. Fiquei lisonjeado pela lembrança e agradecido, pois aquele retrato documentava um momento importante na vida de nossa cidade. Na foto, o primeiro personagem, à esquerda, era meu pai, Eurico Viana, seguido de Zequinha, o próprio Gonçalo Amarante, Nonô do Saps, Silvério Maciel, Vazinho, Ismael Fonseca, o ex-prefeito João Batista Teixeira, JK, Renato Azeredo (pai do ex-senador e atual deputado federal Eduardo Azeredo), Zé Durval, Carlos Murilo, três membros não identificados da comitiva de JK, José Milligrana, Betinho e Roberto de Moacir.

Sempre tive grande admiração pelo ex-presidente (e olha que para um petista isto soava quase como uma heresia, alguns “companheiros” chegavam a franzir a testa ou torcer o nariz quando eu dizia alguma coisa elogiosa a Juscelino). Mas, o vínculo com o nome de JK era bem mais antigo que a militância petista. Nasci dentro de uma família tradicionalmente política, ligada ao antigo PSD dos coronéis; meu avô, o “coronel Candoca”, foi um dos principais líderes da emancipação municipal e o primeiro prefeito da cidade; além disso, e por causa da política, era amigo pessoal de Juscelino.
Em nossa casa respirava-se política o tempo todo. Minha mãe, Dona Vitiza, além de se casar no seio dessa família, viveu grande parte da sua infância e juventude estudando em internatos de irmãs de caridade na cidade de Diamantina, terra natal de JK. Tinha verdadeira adoração pelo seu “quase” conterrâneo. E esta adoração era explicitada nas paredes da nossa “sala de visitas”: como na maioria das residências, a vocação religiosa era simbolizada pelo Cristo crucificado, e o nosso tinha uns humildes trinta centímetros de altura; porém, em outra parede da mesma sala reinava absoluta e sobranceira a foto de Juscelino, emoldurada e protegida por um vidro, com quase um metro de altura. Era nosso inequívoco cartão de visitas.
E para ilustrar esta veneração, lembro-me quando Ron-ron, o primeiro neto de Dona Vitiza, tinha seus poucos meses de vida, ela o trazia, no colo, à sala de visitas para iniciá-lo nas primeiras reverências ao ídolo. Postava-se com o neto diante da foto, apontava o indicador e ensinava alto e bom som: “JO-TA-KÁ”, repetindo aquelas sílabas várias vezes. Bom, não sei se Ron-ron entendeu alguma coisa, mas daí em diante, e para todos os netos que vieram depois, Dona Vitiza passou a se chamar Kaká.
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Paulão, fotógrafo competente, estava na Praça Bom Jesus na manhã em que Lula passou por Matozinhos durante a campanha presidencial de 1994. Era a segunda tentativa do “companheiro” de chegar ao Palácio do Planalto. Vinha de BH, passando por várias cidades, em direção a Sete Lagoas. Na época, eu era membro do diretório municipal do PT e participava do grupo que organizou a visita de Lula aos municípios de nossa região, razão pela qual me encontrava no palanque. O palanque era, na verdade, o caminhão de Divino Fonseca, um velho Ford, estacionado no adro da matriz, com caixas de som e faixas de saudação ao candidato. Algum tempo depois, recebo uma foto do Paulão que registrava aquele momento.


Era uma cópia, no tamanho 15X10 cm, com as “autoridades”: Liliane Fonseca (também do diretório municipal do partido), Tilden Santiago, eu, Paulo César Fhungi, Lula, Carlão e Nilmário Miranda. Guardei-a numa gaveta por uns bons anos, e só vim resgatá-la quando observei que a foto de JK com meu pai ocupava, há um bom tempo, um espaço nobre num aparador da “sala de visita” de minha casa. Nessa ocasião, Lula já estava em seu segundo mandato. Não tive dúvida, peguei minha foto com o “presidente”, montei num porta-retrato e postei-a ao lado da outra fotografia. Orgulhoso, observei atenta e longamente as duas fotos, até que fitei meu pai e disse-lhe: “é, meu pai, cada um tem o presidente que merece”...
O sentido da frase é dúbio, mas as fotos continuam lá. E até hoje as olho com muito orgulho.