Reiteradamente volto
ao tema do nosso patrimônio cultural. Sei que não sou uma voz isolada, mas aproveito
o blog para ampliar o espaço de discussão deste assunto. Na edição
do bimestre novembro-dezembro de 2004 do extinto jornal impresso “Ecos”, publiquei uma
matéria sobre o livro “O patrimônio arqueológico da região de Matozinhos – CONHECER PARA PROTEGER”, de autoria da arqueóloga e
historiadora Alenice Baeta em
parceria com o professor André Prous, do Departamento de
Sociologia e Antropologia da FAFICH-UFMG, com fotografias de Ézio Rubbioli,
espeleólogo do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas. Sob o título “Um
tesouro escondido”, o texto explicava o conteúdo da publicação: uma síntese das
pesquisas arqueológicas da região calcária de Lagoa Santa, de Lund a Walter
Neves, passando entre outros por Annette Laming-Emperaire, numa linguagem
simples e didática, esclarecendo e informando sobre um assunto ainda pouco
valorizado pelos órgãos de planejamento do município e praticamente
desconhecido do grande público. Enfim, são 132 páginas de uma obra-prima editorial,
com cuidadoso projeto gráfico, belas fotografias e excelentes ilustrações, que
deveria ser um dos livros de cabeceira de quem se interessa pelo tema.
Além deste, há outros
que poderão ajudar a compreender o grande valor da região de Matozinhos para a
arqueologia, a paleontologia e a antropologia brasileira e mundial, e a
entender a necessidade de proteção e preservação das nossas cavernas e sítios
arqueológicos. De fácil leitura, cito estes dois: “Lapa das Boleiras – Um Sítio
Paleoíndio do Carste de Lagoa Santa, MG, Brasil”, de Astolfo Araújo e Walter Neves; e “O Povo de
Luzia – em busca dos primeiros americanos”,
dos professores e pesquisadores Walter
Alves Neves e Luís Beethoven Piló.
Quem ainda não leu estes livros, creio que poderá encontrá-los para empréstimo
na Biblioteca Pública Municipal Professor João Batista Teixeira, no Palácio da
Cultura, em Matozinhos.
Voltando um pouco no
tempo, ex-alunos do Colégio Bento Gonçalves, eu e João Pezzini realizamos
naquela instituição uma exposição sob o título “As Grutas de Matozinhos – importância
e preservação”. A data: outubro de 1980, portanto há 33 anos. Num tempo
em que a palavra ecologia soava como neologismo e quase ninguém conhecia seu
significado, já estávamos discutindo e tornando públicas nossas preocupações
com este acervo cultural do município. Além de fotos impressas, ilustrações e
quadros explicativos, fizemos a montagem do que à época era chamado de
“audiovisual”, ou seja, uma coleção de slides projetados numa determinada
sequência acompanhados de sonorização com músicas e textos. Hoje isso poderia
ser feito em poucas horas com um powerpoint
em qualquer computadorzinho, entretanto, naqueles anos, esse processo era caro,
exigia equipamentos sofisticados e laboratórios de imagem e som. Mas, demos
nosso recado. O “audiovisual” apresentava fotos dos sítios arqueológicos e seus
paineis rupestres com grande preocupação didática e estética, ao mesmo tempo em
que pontuava as chaminés de indústrias que calcinavam as pedreiras, numa óbvia
alusão ao risco de desaparecimento que aqueles bens patrimoniais corriam. Ao
final, o último slide projetava uma sentença, “desenhada” na face de uma pedra
qual uma pintura rupestre, que afirmava: “A
pré-história de Minas Gerais pode diluir-se na fumaça de uma chaminé”.
Mesmo se retirarmos o
tom dramático da frase, ela ainda continuará sendo válida, o risco ainda pode
existir, razão pela qual insistimos na necessidade de aumentarmos o número e o
universo de interlocutores. Assim, creio que se deveria dar mais publicidade ao
projeto “Terra de Luzia”, do Colégio
Bento Gonçalves, ampliar suas informações para além do âmbito exclusivamente
escolar, buscando atingir de forma didática toda a comunidade. Também acho
interessante socializar, através dos meios de comunicação, as ações e
propósitos do Ecomuseu do Carste, para que toda a sociedade o conheça,
acompanhe e legitime seu trabalho. Ao mesmo tempo, o poder público municipal,
legislativo, judiciário e executivo, através de suas autoridades, precisa ter
ciência do potencial de desenvolvimento deste setor, principalmente com as
oportunidades que se anunciam como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e somar
esforços no sentido de pressionar o governo estadual na implantação do Parque
Estadual de Cerca Grande.
Este é um passo
fundamental para que Matozinhos faça parte da chamada “Rota Lund”, programa
turístico mineiro dentro do Circuito das Grutas, e possa garantir a preservação
daquele sítio arqueológico, além de promover o desenvolvimento turístico
municipal de forma sustentável.
A propósito de sítios
arqueológicos, João Pezzini me falou a respeito de um projeto de pesquisa
arqueológica nas ruínas da fazenda Bom Jardim, que pertenceu à sua família e
hoje é propriedade da Lafarge. Mas, este assunto fica para uma próxima postagem.