Necessários no sentido de riscar, traçar linhas que podem ser desenhos ou letras compondo uma ideia... ou mesmo os riscos que somos levados a correr durante a vida... Tanto os riscos/traços/letras quanto os riscos/viver/arriscar são necessários para a sobrevivência dos nossos sonhos, nosso ego, e até mesmos dos nossos fantasmas...


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Como disse o Ziraldo: “E NO RIRÓ”?

Devo admitir que ultimamente andei meio ranzinza nos textos deste blog. Falei dos riscos de desaparecimento de nosso patrimônio arqueológico e paleontológico; denunciei a falta de educação e a agressividade gratuita de muitos internautas em suas conversas online, enfim, fiquei sério demais. Mas, faço aqui minha mea culpa. E vou relaxar um pouco, tratando hoje de um tema bem mais leve.
Consultando velhos alfarrábios, deparei com um recorte de jornal interessante: uma nota no lendário “O Pasquim”, edição no 123, de novembro de 1971, que falava de um tal “Dicionário da Língua Familiar – ou Grupal – Brasileira” que o cartunista Ziraldo estava tentando organizar a partir de contribuições dos leitores. E eu, na época com 19 anos, enviei ao Pasquim uma expressão divertida e muito usada aqui em Matozinhos e em Capim Branco, município pertinho daqui, onde ela nasceu: “e no riró?”. No texto eu expliquei como surgiu a expressão e as variações que apareceram em seguida. Abaixo, reproduzo parte da nota com a explicação:
“Diz o Zé que a palavra já é de uso corrente em sua cidade e em Capim Branco, lá por perto, onde a palavra nasceu. Diz que tava um jogo de futebol muito quente e resolveram tirar um jogador do time pro dono do time entrar no lugar dele.

Ninguém topou sair. O último e mais fraquinho, tava ali, num canto, doido pra ninguém notar ele, quando o técnico falou: ‘Sai você!’
E ele respondeu: ‘Ah, é. E no RIRÓ, não vai nada?’
Ninguém entendeu, mas ele não saiu.
Hoje, a palavra já está cheia de corruptelas pela região: ariró, orirol; riras, rirostática (ciência que es­tuda os movimentos do RIRÓ), riro­logia, etc.
Só tem um detalhe: riró se pro­nuncia com o primeiro R tendo o som que os R têm, quando estão en­tre vogais. A gente tem que dar uma enroladinha na língua antes de co­meçar a pronunciar a palavra. Não tem jeito de escrever a palavra em português com seu som exato, a não ser que você faça este aviso antes. É um riró pra conferir. - (Ziraldo)”
E o que não faltava naqueles tempos era gente pra divulgar a expressão; pra todo lado se ouvia o “clássico” E NO RIRÓ?.
Alguns anos depois, surgiu em Belo Horizonte na extinta TV Itacolomi um programa de auditório chamado “Mineiros Frente a Frente”, onde eram confrontadas equipes representantes das cidades mineiras, que cumpriam tarefas de toda ordem para angariar pontos e vencer o certame. As tarefas variavam desde um concurso da representante mais bonita da cidade a curiosidades locais, passando por apresentações de dança etc. O programa era transmitido pela TV para toda Minas Gerais. As disputas aconteciam nos fins de semana e eram eliminatórias, cada cidade que vencia uma etapa se classificava para a seguinte, a que perdia voltava pra casa. Era o típico campeonato mata-mata.
 Matozinhos ficou famoso com o grupo folclórico português que Cristiano Gomes ensaiava com crianças e adolescentes (essas “crianças” devem estar hoje com seus cinquenta anos, mais ou menos...). O grupo folclórico era uma espécie de tira-teima. Quer dizer, se a disputa tava apertada, era só chamar Cristiano com os meninos do folclore que ele resolvia a parada a nosso favor. E não havia quem resistisse ao talento daquela turma. Matozinhos ia rompendo na competição, derrubando adversários pequenos e grandes, até que um dia foi anunciado que enfrentaríamos a cidade de Caratinga, que tinha entre seus representantes famosos ninguém menos que o cartunista Ziraldo.
No dia da disputa, a delegação de Matozinhos seguiu para Beagá em vários ônibus, que levavam além dos participantes do programa uma grande torcida organizada. Chegando ao edifício do auditório, as delegações praticamente se encontram, o clima é de tensão total. João Alves, presente no evento, é que me contou sobre o episódio: as turmas de Matozinhos e Caratinga, cara a cara, todo mundo nervoso com a expectativa. De repente, no meio daquela profusão de gente, aparece o Ziraldo com um enorme sorriso no rosto e saúda a nossa delegação com um sonoro e retumbante “Eh, Matozinhos, E NO RIRÓ?”. Era a senha para desarmar os espíritos. A partir daí, houve a maior confraternização entre todos, era como se os competidores das duas cidades fossem velhos amigos.