Devo admitir que ultimamente andei
meio ranzinza nos textos deste blog. Falei dos riscos de desaparecimento de
nosso patrimônio arqueológico e paleontológico; denunciei a falta de educação e
a agressividade gratuita de muitos internautas em suas conversas online, enfim, fiquei sério demais.
Mas, faço aqui minha mea culpa. E vou relaxar um pouco, tratando hoje de um
tema bem mais leve.
Consultando velhos alfarrábios,
deparei com um recorte de jornal interessante: uma nota no lendário “O Pasquim”,
edição no 123, de novembro de 1971, que falava de um tal “Dicionário
da Língua Familiar – ou Grupal – Brasileira” que o cartunista Ziraldo estava
tentando organizar a partir de contribuições dos leitores. E eu, na época com
19 anos, enviei ao Pasquim uma expressão divertida e muito usada aqui em
Matozinhos e em Capim Branco, município pertinho daqui, onde ela nasceu: “e no riró?”. No texto eu expliquei
como surgiu a expressão e as variações que apareceram em seguida. Abaixo, reproduzo
parte da nota com a explicação:
Ninguém
topou sair. O último e mais fraquinho, tava ali, num canto, doido pra ninguém
notar ele, quando o técnico falou: ‘Sai você!’
E
ele respondeu: ‘Ah, é. E no RIRÓ, não vai nada?’
Ninguém
entendeu, mas ele não saiu.
Hoje,
a palavra já está cheia de corruptelas pela região: ariró, orirol; riras,
rirostática (ciência que estuda os movimentos do RIRÓ), rirologia, etc.
Só tem um detalhe: riró se pronuncia
com o primeiro R tendo o som que os R têm, quando estão entre vogais. A gente
tem que dar uma enroladinha na língua antes de começar a pronunciar a palavra.
Não tem jeito de escrever a palavra em português com seu som exato, a não ser
que você faça este aviso antes. É um riró pra
conferir. - (Ziraldo)”
E o que não faltava naqueles tempos era gente
pra divulgar a expressão; pra todo lado se ouvia o “clássico” E NO RIRÓ?.
Alguns anos depois, surgiu em Belo
Horizonte na extinta TV Itacolomi um programa de auditório chamado “Mineiros
Frente a Frente”, onde eram confrontadas equipes representantes das cidades
mineiras, que cumpriam tarefas de toda ordem para angariar pontos e vencer o
certame. As tarefas variavam desde um concurso da representante mais bonita da
cidade a curiosidades locais, passando por apresentações de dança etc. O
programa era transmitido pela TV para toda Minas Gerais. As disputas aconteciam
nos fins de semana e eram eliminatórias, cada cidade que vencia uma etapa se
classificava para a seguinte, a que perdia voltava pra casa. Era o típico
campeonato mata-mata.
Matozinhos ficou famoso com o grupo folclórico
português que Cristiano Gomes ensaiava com crianças e adolescentes (essas
“crianças” devem estar hoje com seus cinquenta anos, mais ou menos...). O grupo
folclórico era uma espécie de tira-teima. Quer dizer, se a disputa tava
apertada, era só chamar Cristiano com os meninos do folclore que ele resolvia a
parada a nosso favor. E não havia quem resistisse ao talento daquela turma.
Matozinhos ia rompendo na competição, derrubando adversários pequenos e
grandes, até que um dia foi anunciado que enfrentaríamos a cidade de Caratinga,
que tinha entre seus representantes famosos ninguém menos que o cartunista
Ziraldo.
No dia da disputa, a delegação de Matozinhos
seguiu para Beagá em vários ônibus, que levavam além dos participantes do
programa uma grande torcida organizada. Chegando ao edifício do auditório, as
delegações praticamente se encontram, o clima é de tensão total. João Alves,
presente no evento, é que me contou sobre o episódio: as turmas de Matozinhos e
Caratinga, cara a cara, todo mundo nervoso com a expectativa. De repente, no
meio daquela profusão de gente, aparece o Ziraldo com um enorme sorriso no
rosto e saúda a nossa delegação com um sonoro e retumbante “Eh, Matozinhos, E NO RIRÓ?”.
Era a senha para desarmar os espíritos. A partir daí, houve a maior
confraternização entre todos, era como se os competidores das duas cidades
fossem velhos amigos.
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