Estava disposto a terminar a leitura do livro da Elizabeth
Gilbert, “Comer-Rezar-Amar”, e foi bastante produtiva a viagem a BH no ônibus
rodoviário, pois ele permite certos confortos, como a própria leitura, impossível
em um lotação apinhado de gente, numa segunda-feira de manhã bem cedo. Então
aproveitei e li bastante (apesar da catarata), terminando a leitura das últimas
linhas em casa à noite.
Apesar de meio (às vezes, bastante) cansativo em algumas
passagens, o livro é até delicado, principalmente ao final (capítulo
Indonésia). A passagem por Roma, que é da fase do COMER, é bastante
superficial, como não podia deixar de ser, pois o desejo inicial era uma
espécie de descargo, de dar as costas aos problemas vividos nos EUA (divórcio,
namoro mal resolvido etc.), uma catarse via gastronomia italiana e, intelectualmente,
o exercício de aprendizado da língua local. O sentido que dou a “superficial” é
pelo fato de que aquele primeiro momento é de uma espécie de “fuga”, preparando
o caminho de “busca”, que começa na Índia, num “asrham” (ou coisa parecida),
que é uma espécie de monastério budista da sua guru, conhecida em Nova Yorque.
Pra quem gosta, é um “prato cheio”, com intermináveis exercícios de meditação,
trabalhos braçais disciplinadores; mas o foco principal são as amizades feitas
e as reflexões daí surgidas, que começam a realizar as transformações
espirituais e (principalmente, acho eu) as mudanças psicológicas. Esse momento
“indiano” é para mim o mais cansativo do livro, obviamente por questões
teológico-ideológico, que vou tentando superar. Consigo entender, aceitar, mas
assim mesmo continuam cansativos. Apesar de que, às vezes surgem informações
sobre a cultura IOGA, bastante interessantes para tentar-se compreender o
comportamento cultural e religioso daquele povo. Daí, vamos para a Indonésia.
Como o ápice da história está neste capítulo, o texto fica
mais agradável, mais ágil, os personagens começam a surgir e o tratamento
dedicado a eles é muito mais bem humorado. Parece até que numericamente são
mais que nos outros dois capítulos. Mas esses são os personagens que vão
tocá-la de forma mais profunda e ajudá-la de uma forma ou outra a operar as
transformações espirituais que busca. O engraçado nesta leitura é que comecei a
ficar de “saco cheio” com o texto, pois faltava ainda uma porrada de páginas e
mais páginas (eu estava abrindo o capítulo da Indonésia) e resolvi trapacear
com o livro: fui para o computador, entrei no site do Netflix, olhei para um
lado e outro, dei aquela risadinha sarcástica e disse pra mim mesmo “vou
terminar essa leitura agora”. E sapequei no monitor o filme com a Julia Roberts
e o Javier Barden. Duas horas depois, fiquei com uma comunidade de “pulgas
atrás das orelhas”... Na manhã seguinte, converso com minha filha Amanda (que
também havia visto o filme e lido o livro) e ela iniciou a pontuação de uma
série de detalhes, uns têm no filme e não no livro e vice-versa. Depois de
alguns minutos, o livro, que já estava na “pasta de saídas”, voltou para a
“pasta de entradas”. Foi ótimo, primeiro porque evitei a “trapaça”, que é uma
picaretagem que deixa você “mal” (nunca se vai poder afirmar ou negar algo dos
trechos não lidos); segundo, porque a leitura ficou agradável, os personagens
tinham humor.
É compreensível que o filme tenha que explorar alguns
artifícios comerciais para se vender(mas não precisa cair em dramalhões quase
mexicanos, como a revelação do Richard do Texas sobre seu alcoolismo e
separação da família; e a indecisão final da escritora em ficar ou não com o
brasileiro, tratado com tanto drama – esses episódios são “vendidos” somente no
filme. De qualquer forma, meu sentimento final é de uma obra com momentos bem
chatos, cansativos (creio que a maioria das leitoras – e é um livro feminino –
não deve ter tido essa mesma impressão, pois o livro vendeu pra caralho),
mas muito bem escrito, muito profissional do ponto de vista editorial, traz
muita informação sobre o universo espiritual de algumas culturas asiáticas e,
principalmente, consegue ser um texto informativo, afetivo e essencialmente
DELICADO. Creio que valeu a pena a leitura, apesar de ter tomado mais tempo que
devia e da gozação que um colega me deu por estar lendo “livro de mulher”.