Necessários no sentido de riscar, traçar linhas que podem ser desenhos ou letras compondo uma ideia... ou mesmo os riscos que somos levados a correr durante a vida... Tanto os riscos/traços/letras quanto os riscos/viver/arriscar são necessários para a sobrevivência dos nossos sonhos, nosso ego, e até mesmos dos nossos fantasmas...


terça-feira, 15 de março de 2016

120 Anos de Nascimento de Agripa Vasconcelos

Em abril será comemorado o 120º aniversário de nascimento do médico e escritor matozinhense Agripa Vasconcelos.
Segue abaixo o convite oficial.
Prestigiem.




Comentário sobre o livro COMER REZAR AMAR

Estava disposto a terminar a leitura do livro da Elizabeth Gilbert, “Comer-Rezar-Amar”, e foi bastante produtiva a viagem a BH no ônibus rodoviário, pois ele permite certos confortos, como a própria leitura, impossível em um lotação apinhado de gente, numa segunda-feira de manhã bem cedo. Então aproveitei e li bastante (apesar da catarata), terminando a leitura das últimas linhas em casa à noite.

Apesar de meio (às vezes, bastante) cansativo em algumas passagens, o livro é até delicado, principalmente ao final (capítulo Indonésia). A passagem por Roma, que é da fase do COMER, é bastante superficial, como não podia deixar de ser, pois o desejo inicial era uma espécie de descargo, de dar as costas aos problemas vividos nos EUA (divórcio, namoro mal resolvido etc.), uma catarse via gastronomia italiana e, intelectualmente, o exercício de aprendizado da língua local. O sentido que dou a “superficial” é pelo fato de que aquele primeiro momento é de uma espécie de “fuga”, preparando o caminho de “busca”, que começa na Índia, num “asrham” (ou coisa parecida), que é uma espécie de monastério budista da sua guru, conhecida em Nova Yorque. Pra quem gosta, é um “prato cheio”, com intermináveis exercícios de meditação, trabalhos braçais disciplinadores; mas o foco principal são as amizades feitas e as reflexões daí surgidas, que começam a realizar as transformações espirituais e (principalmente, acho eu) as mudanças psicológicas. Esse momento “indiano” é para mim o mais cansativo do livro, obviamente por questões teológico-ideológico, que vou tentando superar. Consigo entender, aceitar, mas assim mesmo continuam cansativos. Apesar de que, às vezes surgem informações sobre a cultura IOGA, bastante interessantes para tentar-se compreender o comportamento cultural e religioso daquele povo. Daí, vamos para a Indonésia.

Como o ápice da história está neste capítulo, o texto fica mais agradável, mais ágil, os personagens começam a surgir e o tratamento dedicado a eles é muito mais bem humorado. Parece até que numericamente são mais que nos outros dois capítulos. Mas esses são os personagens que vão tocá-la de forma mais profunda e ajudá-la de uma forma ou outra a operar as transformações espirituais que busca. O engraçado nesta leitura é que comecei a ficar de “saco cheio” com o texto, pois faltava ainda uma porrada de páginas e mais páginas (eu estava abrindo o capítulo da Indonésia) e resolvi trapacear com o livro: fui para o computador, entrei no site do Netflix, olhei para um lado e outro, dei aquela risadinha sarcástica e disse pra mim mesmo “vou terminar essa leitura agora”. E sapequei no monitor o filme com a Julia Roberts e o Javier Barden. Duas horas depois, fiquei com uma comunidade de “pulgas atrás das orelhas”... Na manhã seguinte, converso com minha filha Amanda (que também havia visto o filme e lido o livro) e ela iniciou a pontuação de uma série de detalhes, uns têm no filme e não no livro e vice-versa. Depois de alguns minutos, o livro, que já estava na “pasta de saídas”, voltou para a “pasta de entradas”. Foi ótimo, primeiro porque evitei a “trapaça”, que é uma picaretagem que deixa você “mal” (nunca se vai poder afirmar ou negar algo dos trechos não lidos); segundo, porque a leitura ficou agradável, os personagens tinham humor.

É compreensível que o filme tenha que explorar alguns artifícios comerciais para se vender(mas não precisa cair em dramalhões quase mexicanos, como a revelação do Richard do Texas sobre seu alcoolismo e separação da família; e a indecisão final da escritora em ficar ou não com o brasileiro, tratado com tanto drama – esses episódios são “vendidos” somente no filme. De qualquer forma, meu sentimento final é de uma obra com momentos bem chatos, cansativos (creio que a maioria das leitoras – e é um livro feminino – não deve ter tido essa mesma impressão, pois o livro vendeu pra caralho), mas muito bem escrito, muito profissional do ponto de vista editorial, traz muita informação sobre o universo espiritual de algumas culturas asiáticas e, principalmente, consegue ser um texto informativo, afetivo e essencialmente DELICADO. Creio que valeu a pena a leitura, apesar de ter tomado mais tempo que devia e da gozação que um colega me deu por estar lendo “livro de mulher”.